Sumário |
O CRASH é
um grande ensaio simples controlado com placebo dos efeitos de uma infusão
de corticosteróides durante 48 horas sobre a ocorrência
de óbito e invalidez neurológica entre adultos com traumatismo
craniano e um certo grau de prejuízo da consciência. Os
procedimentos são descritos na Figura 2 e na quarta capa do protocolo.
Pacientes de traumatismo craniano com prejuízo de consciência
que sejam julgados de idade igual ou superior a 16 anos são elegíveis
se o médico responsável estiver, por qualquer motivo,
substancial-mente incerto a respeito de usar ou não corticosteróides.
Pacotes numerados de medicamento ou placebo estarão disponíveis
em cada Departamento Emergencial participante. Para a randomização
é preciso chamar nosso serviço telefônico gratuito
de atendimento 24 horas. A chamada só deve demorar um ou dois
minutos, e no final o serviço especificará para a pessoa
que chamou qual o pacote de tratamento numerado a ser usado. O medicamento
ou o placebo no pacote é reconstituído em solução
salina e, depois de uma dose de carga de uma hora, vai sendo infundido
durante 48 horas (ou o mais perto possível disto). Não
se necessitam testes adicionais, mas um pequeno formulário tem
de ser preenchido duas semanas mais tarde (ou após o óbito
ou a alta, se ocorrerem antes). |
Número de pacientes necessários |
Dois
fatores principais determinam o número de pacientes necessários
em um ensaio. São a taxa de eventos estimados e a dimensão
dos efeitos do tratamento... |
Taxa
de eventos estimados: Em recente ensaio multicentral randomizado sobre
traumatismo de cabeça usando critérios de inclusão
similares àqueles do ensaio CRASH, o risco global de morte entre
controles foi de 15%, ficando o risco de desfecho desfavorável
(morte, incapacidade para o trabalho ou necessidade de reabilitação)
em 43%.[Ref 12] Este
é um dos mais recentes ensaios randomizados de corticosteróides
para traumatismo de cabeça e seria razoável esperar um
risco similar de desfecho desfavorável no ensaio CRASH. |
Dimensão
dos efeitos do tratamento que devem ser detectáveis: Devido a
que mesmo uma vantagem de sobrevivência de 2% para uma intervenção
tão simples e largamente praticável quando a de corticosteróides
representaria um benefício valioso, o ensaio atual foi planejado
de modo a ser capaz de detectar tal porcentagem... |
Números
necessários: |
Elegibilidade |
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Todos
os pacientes com traumatismo craniano que, - na ausência de sedação
- durante sua permanência no hospital, demonstrarem GCS igual
ou inferior a 14 e estiverem nas primeiras 8 horas após o trauma
são elegíveis para participar do ensaio se tiverem idade
aparente igual ou superior a 16 anos. Embora a participação
seja admitiva até no máximo 8 horas após o trauma,
o quanto antes os pacientes forem tratados, melhor. |
Não
existem outros critérios de exclusão pré-especificados,
de vez que o critério fundamental de elegibilidade seja a "incerteza"
do médico responsável a respeito de usar ou não
corticosteróides em um determinado adulto com traumatismo de
cabeça.[Ref 13]
Pacientes para os quais o médico responsável considere
haver clara indicação de corticosteróides (tais
como, talvez, aqueles que também apresentem traumatismo agudo
do cordão espinhal) não devem ser randomizados. Da mesma
forma, também não devem ser randomizados aqueles com clara
contraindicação a corticosteróides. Porém,
todos aqueles a respeito dos quais o médico responsável
tenha substancial incerteza a respeito de ministrar ou não corticosteróides
serão candidatos à randomização, e o máximo
possível de tais pacientes devem ser considerados para o ensaio.
|
A
heterogeneidade dos tipos de pacientes inscritos neste ensaio constitui
um fortalecimento científico e não uma fraqueza. Se uma
ampla variedade de pacientes for randomizada, pode ser possível
que um ensaio realmente amplo como este ajude a determinar quais os
tipos específicos de paciente (se houver algum) têm maior
probabilidade de benefício com o tratamento. |
Considerações
especiais para elegibilidade: Nenhuma. A exclusão rotineira de
pacientes com queixas gastrointestinais ou gravidez é desnecessária,
a menos que o médico responsável as considere uma contraindicação
definitiva. |
Notas: |
Consentimento |
Pacientes com traumatismo craniano e consciência prejudicada podem não ser capazes de dar consentimento devidamente informado. Nesta situação de emer-gência, pode não ser adequado do ponto de vista médico retardar o início do tratamento até a obtenção do consentimento de quem o represente. Assim, o médico encarregado deve assumir a responsabilidade pela inscrição de tais pacientes, assim como assumiria pela adoção de outros tratamentos. Não obs-tante, as exigências da respectiva comissão de ética tem de ser cumpridas o tempo todo. Um folheto informativo sobre o estudo para pacientes e seus ami-gos e parentes fará parte de todos os pacotes de medicamentos (Apêndice 1). |
Pacientes elegíveis para inclusão devem ser randomizados e o tratamento do estudo iniciado o mais breve possível. A randomização é feita telefonando para um serviço gratuito de 24 horas e leva apenas dois minutos. O formulário de inscrição do paciente (Apêndice 2) mostra as perguntas que serão feitas pela telefonista antes da alocação dos pacotes de tratamento. Depois, o computador do estudo vai emitir um número que identificará um dos pacotes do tratamento CRASH armazenados no departamento de emergência. Depois que o paciente for randomizado, certamente vamos querer saber o desfecho no hospital, mesmo que o tratamento do ensaio seja interrompido ou nem sequer administrado. |
Tratamento do estudo |
Cada pacote de tratamento do CRASH contém: |
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Tratamento |
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Dose (MP ou placebo) |
Carga |
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2g durante 1 hora |
1º dia |
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0,4 g/hora durante ~24 horas |
2º dia |
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0,4 g/hora durante ~24 horas |
Carga |
2g MP (ou placebo correspondente) durante 1 hora em infusão de 100 mL: |
1.
Adicione 20 mL de água para injeção em um frasco
de 2g e misture bem. |
Manutenção Diária |
0,4 g/h durante aprox. 24 horas em infusão de 20 mL/h (MP ou placebo correspondente): |
1.
Retire 100 mL de uma bolsa com 500 mL de 0,9% NaCl (dando espaço
para o esteróide) |
N.B.
Como menores de 16 anos são excluídos, pode-se usar uma
dose única de tratamento fixo. O regime de dosagem é aquele
usado nos ensaios NASCIS-2 e NASCIS-3 de MP em lesão aguda do
cordão espinhal. |
Eventos adversos inesperados |
Reações anafiláticas a corticosteróides intravenosos são extremamente raras, mas devem ser tratadas da maneira como preferir o médico responsável (uma possibilidade sendo adrenalina intramuscular a 0,5 mg, ou seja, 0,5 mL em solução de 1 em 1.000 (1 mg/mL).[Ref 14] É de se esperar que uma cobertura anesté-sica de 24 horas esteja disponível em todos os hospitais que participarem do CRASH. Se ocorrer uma reação adversa grave e inesperada ao medicamento com suspeita de relação ao medicamento do estudo, isto deve ficar registrado, chamando-se o serviço de randomização de 24 horas, que informará o centro coordenador do CRASH em Londres. |
De modo geral, sangramentos
gastrointestinais e infecções não precisam ser
reportadas desta maneira, porque um certo aumento na sua incidência
pode ser esperado do uso de esteróides. Da mesma forma, os diversos
eventos médicos que se possa esperar de pacientes com traumatismo
de cabeça não precisam ser comunicados pelo telefone.
Todos estes eventos são, contudo, monitorados rotineiramente
no formulário de desfecho de todos os pacientes.[Apêndice
3]. |
'Desmascarando' o tratamento alocado em uma emergência |
De modo geral, não
deve haver necessidade de desmascarar o tratamento aplicado. Se alguma
contraindicação a corticosteróides se manifestar
após a randomização (p.ex., sangramento gastrointestinal
grave), basta interromper o tratamento do ensaio. O desmascaramento
nunca foi considerado necessário no ensaio NASCIS do MP em traumatismos
do cordão espinhal [Ref
4], e só deve ocorrer naqueles raros casos em que o médico
acreditar que sua administração clínica esteja
na dependência importante de saber se o paciente recebeu corticosteróide
ou placedo (p.ex., na suspeita de anafilaxe). Nestes raros casos em
que o desmascaramento urgente seja julgado necessário, deve-se
telefonar para o serviço de randomização, fornecendo
o nome do médico que autorizou a revelação e o
número do pacote de tratamento CRASH (se disponível),
após o que a pessoa que ligou será informada se o paciente
recebeu corticosteróide ou placebo. |
As
medidas primárias de desfecho são: |
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Óbitos,
complicações e recuperações de curta duração
entre os internados são registrados no formulário de evolução
precoce, que consiste de uma só página e pode ser preenchido
a partir do prontuário hospitalar - sem necessidade de testes
adicionais. |
A recuperação a longo prazo será avaliada após seis meses, seja por questionário postal simples, enviado diretamente a cada participante do ensaio pelo centro coordenador do CRASH, ou por entrevista telefônica. Isto não implica nenhum trabalho adicional pelos hospitais colaboradores. |
Análise |
Serão feitas comparações das medidas primárias de desfecho, comparando todos os que receberam metilprednisolona com os que receberam placebo com base em 'intenção de tratar'. As análises serão estratificadas no tempo desde o trauma até o início do tratamento, e pela gravidade do traumatismo craniano conforme avaliado pela Escala Glasgow de Coma. Também serão feitas comparações dos riscos de infecção e sangramento gastrointestinal. |